E as pessoas com nanismo?*

* Este texto foi originalmente publicado em 2013, quando eu era colunista do portal Vida Mais Livre para falar de acessibilidade. O título original era “E os anões?”. Na época eu tive contato com os dirigentes da Associação Gente Pequena do Brasil e perguntei sobre a nomenclatura correta e me disseram não ter problema usar o termo anão. Com o tempo o movimento se fortaleceu ainda mais e o consenso do termo mudou. Pessoas com nanismo é a forma correta. Por isso o texto foi revisto agora para publicar aqui, pois nunca publiquei no meu blog (na época o portal tinha exclusividade). Talvez você encontre pela internet este outro título, pois o texto foi reproduzido por aí (muitas vezes sem a devida autoria). Na época tinha pouco material falando de adaptações de acessibilidade para este público.

a foto mostra uma mulher com nanismo em frente a uma porta, utilizando um elemento comprido para ajudá-la a manipular a trava no alto da porta, do tipo que permite abrir apenas uma pequena fresta na porta.
Mulher com nanismo usa adaptação para abrir tranca de porta de hotel

Acessibilidade é muita coisa, mas na verdade é uma só. Diria que é a arte de contemplar a diversidade humana para que todos possam ter conforto, segurança e autonomia. E podemos considerar “arte” porque envolve criatividade, além do conhecimento. A criatividade é necessária para sempre buscarmos soluções mais adequadas e humanas, além das normas e leis.

Essa introdução casa muito bem para as pessoas com nanismo, que pouco são lembradas quando falamos de acessibilidade. Principalmente no que se refere às normas técnicas que apresentam os parâmetros de acessibilidade. Quando na teoria não há parâmetros, na prática se omitem das soluções. Segundo a Associação Gente Pequena do Brasil existem atualmente 200 tipos e 80 subtipos de nanismo, sendo a acondroplasia o mais comum [*dado de 2013]. E a cada 25 mil nascimentos, um pode nascer com nanismo, sem necessariamente haver hereditariedade.

Mas o que querem essas pessoas? Assim como todos, dignidade no uso dos espaços do dia a dia: locais urbanos, de trabalho, de lazer e de descanso. É verdade que algumas coisas pensadas para usuários em cadeira de rodas ajudam a essa parcela da população, mas digamos que, por tabela, e não por dedicação ao tema.

Pessoas com nanismo terão dificuldades no alcance manual e visual e em vencer desníveis. Um simples interfone na entrada de um edifício já uma barreira, fazendo com que tenham que pedir ajuda de alguém que passa na rua, por exemplo. Um caixa eletrônico, mesmo aquele feito para o cadeirante, geralmente é alvo de reclamação. Não há privacidade no uso: quem está atrás de você vê tudo na tela. Isso quando a posição da tela não prejudica a visualização pelo reflexo existente. Uma escada de acesso pode ser um percurso bastante desconfortável e cansativo. Suas articulações são exigidas ao máximo todos os dias, no estica e puxa, na ponta dos pés, no alcance dos dedos do último botão do elevador. Desgastante, não?

Se na sua empresa tem uma pessoa com nanismo, procure saber o que precisa e busquem soluções juntos. Às vezes um simples banquinho em locais-chave pode ser suficiente, até que outras ações mais complicadas possam ser programadas. Se o seu objetivo é garantir um espaço para todos, sem saber exatamente quem virá, tenha em mente as alturas de alcance e visualização. Um balcão mais baixo para poder ver quem atende; a maçaneta do tipo alavanca que não exige tanto da articulação; uma pia no coletivo em altura mais baixa e uma bacia fixa na parede que pode ser instalada em altura mais adequada; e a altura e posição de acessórios como saboneteiras e papeleiras.

Pensar na diversidade torna os espaços mais humanos. A raiz dessa ideia não é moderna ou contemporânea e sim muito antiga que, acredito, temos esquecido (arquitetos, engenheiros, desenhistas industriais… e tantas outras profissões). Afinal, “O homem é a medida de todas as coisas”, já dizia Protágoras.

*atualização: O site Little People of America, associação americana que influenciou a criação da Associação Gente Pequena do Brasil tem muita informação bacana sobre adaptações e empresas que produzem produtos para este público.

E também indico o site das associações mais expressivas do Brasil, já que a Associação Gente Pequena do Brasil não está mais ativa:

Nanismo Brasil

Associação Nanismo Brasil (Annabra)

E super indico o instagram da Paula Lima – Babados da Pequena para ver os perrengues e soluções que ela vive.

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